segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Noite em fúria - Aisha

A noite já era alta. Tudo parecia dormir na grande casa. O escuro do quarto foi interrompido pelos fortes relâmpagos que se mostravam enfurecidos na grande vidraça onde a chuva forte estourava, como que quisesse invadir o velho quarto apossando-se de Ana.
Sozinha em casa, deitada em sua cama com as cobertas tapando-lhe meio rosto, ela rezava para que a tempestade se acalmasse, tamanho o pavor que sentia. Aliás, medo esse que a acompanhava desde criança pois lembrava perfeitamente das noites de tempestades quando dormia com a mãe na grande cama de casal que seu pai ocupara enquanto vivo.
Hoje sua mãe já não estava mais na grande casa. Estava ali, ela e seus “fantasmas”, sozinha. Medos e pensamentos misturavam-se em sua mente, quando foi desperta pelo barulho de passos vindos da escada velha de madeira. Num sobressalto, viu-se em pé ao lado de sua cama. Olhou fixo na porta esperando que ela se abrisse.
Mãos frias e úmidas, coração saltando forte no peito, viu a grande maçaneta da porta girar lentamente. O tempo parecia parar e o chão de madeira sumia aos seus pés. Aflita, já não respirava mais.
Em passos lentos, aproximou-se da porta. Com mãos trêmulas, segurou a velha maçaneta que parara de girar. Tirou forças não se sabe de onde, e abriu a a porta .. Deparou-se com um grande vazio. Tudo escuro no largo corredor que mais parecia fazer parte de um museu. Seguindo seus instintos, buscou explicações para o barulho que ouvira, e foi até o corredor chegando à velha escada. Nada encontrou, somente o grande vazio que se perdia na escuridão da noite.
A tempestade continuava forte. De volta ao seu quarto, agora totalmente desperta, sentou-se na velha escrivaninha e começou a escrever sem saber ao certo o que ou para quem. Percebeu então que iniciara uma carta de despedida. Nela explicava o motivo de sua morte. Num salto, largou a caneta afastando-se da escrivaninha. O barulho da cadeira caindo no velho assoalho de madeira ecoava pela casa. Não! Decididamente não podia mais continuar ali! Aquela casa mexia com seus sentidos, tirava-lhe o equilíbrio que lutara tanto por manter.
Em meio ao desespero, fez as malas. Algumas poucas trocas de roupas mal colocadas numa bolsa de viagem e pronto. Estava pronta para partir! Desceu rapidamente pelas escadas abrindo a porta da frente que dava para a varanda quando se deparou com um homem alto, traços rústicos que lhe lançava um olhar distante. Instintivamente Ana fechou-lhe a porta e voltou correndo para seu quarto. Trancou a porta escorando com a pesada cadeira que derrubara momentos antes. Foi até janela, e viu que a distância do telhado até a árvore a sua frente não era grande e resolveu sair por ali mesmo.
A chuva fria tocava-lhe o corpo como lâminas afiadas. Ana saltou para o telhado e seguiu rumo à grande e frondosa árvore à sua frente. Num salto, agarrou-se a um galho e por ele chegou ao tronco. Ficou ali escondida, onde podia ver o homem que arrombara a porta de seu quarto e entrara com passos largos.
Sabendo que não poderia ficar naquela árvore a vida toda, decidiu descer enquanto o homem ainda estava na casa, assim ganharia tempo na fuga. Desceu apressada, sem olhar para trás e seguiu correndo em meio à estrada de terra que com a forte chuva, virara lama. Ana escorregou várias vezes, tamanha a dificuldade de se manter em pé. O desespero tomara conta de todos os seus sentidos. O frio, a chuva, a lama, a escuridão... O mundo parecia querer tirar-lhe a vida. Ana correu sem saber para onde; sem parar! Precisava salvar-se! Precisava livrar-se daquele homem. Onde estaria o tal homem? Era um assassino, um assaltante?
Sua casa era afastada da cidade. Não existia nenhuma outra casa por perto. Desesperada e só, Ana correu em meio à escuridão e à chuva que fazia a lama crescer ainda mais sob seus pés...
Naquele momento Ana pensou que não suportaria mais tanto pavor . Estava quase desistindo, quando num só estrondo as luzes à sua frente se acenderam transformando a noite em quase dia, tamanha era a potência, e num grito forte ao longe se ouviu: “Corta! Perfeito!! Por hoje é só pessoal. Todos estão dispensados! Amanhã continuaremos a filmagem"
E Ana finalmente dormiu.

*Aisha*

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