"A história que escrevemos hoje iluminará os passos dos que virão depois."
Aisha
Venta ventania,
venta e assobia,
leva a tristeza
e traz a alegria.
Vento que venta forte
nos campos de alecrim,
vento que traz a sorte,
nunca esqueça de mim.
Venta, vento, ventania,
venta sobre meu jardim,
que a semente, como o dia,
germina o bem que não tem fim.
Vento, venta sim,
traz o sol que não quer dormir,
e um dia, no meu jardim,
todas as flores haverão de florir.
*Aisha*
"Com o passar do tempo percebemos que as cicatrizes que carregamos no corpo são menores das que carregamos na alma. Olharmos para nós mesmos sem ressentimentos ou melancolia é sinal de crescimento e ascensão pelos incontáveis degraus que simbolizam a existência no quadro da evolução humana." - Aisha -
Quero o pôr-do-sol como plano de fundo da minha vida,
sentar-me e ouvir o som do silêncio
e quem sabe dançar com o vento
sobre os sonhos que enfeitam meu chão.
Ser a mulher criança que sempre fui,
sorrir quando quero sorrir
e chorar sem ter vergonha
das lágrimas que desenham minha expressão.
Quero amar de novo o mesmo amor,
entregar-me de corpo e alma, mais e mais,
sem marcar o tempo que o relógio, insistente,
teima em contar trazendo o fim...
Mas o fim é apenas o começo
de um novo mesmo amor
que não tardará a voltar,
como o pôr-do-sol, o amor de sempre.
Publicado no Recanto das Letras em 14/10/2010
Código do texto: T2556648
*Aisha*
Educação para quem? Que tipo de educação nossas crianças e jovens estão recebendo?
Basta ouvir uma criança ou um adolescente que se diz alfabetizado ler que já perguntamos: O que de fato é ser alfabetizado? Escrever então... Prefiro não entrar na questão, visto nossos estudantes não terem criado o hábito da leitura e da escrita. Pergunto então, o que está acontecendo nas escolas com educadores e alunos se muitos saem do ensino médio sem ao menos escrever o próprio nome?
A sociedade questiona, os estudiosos da pedagogia defendem suas teses e, vamos e venhamos, algumas totalmente ilusórias como se colocadas para um mundo de contos de fadas; as secretarias de educação e mesmo muitas escolas tentam esconder a verdade triste que nos traz a realidade, mas, ao colocarmos nossos alunos à prova a verdade vem a tona em sua forma autêntica, triste, medonha mas real...
Já ouvi muitas alegações e confesso, nenhuma me convenceu. Nossas escolas são formadas por alunos sem a educação primária ou informal, que é aquela recebida em casa, da família e essa, passa para a escola o que de fato seria a sua função. Temos pais perdidos na má educação que dão aos seus filhos, uma educação sem limites, sem os “não(s)” que muitas vezes são substituídos por “sim(s)” apenas para evitar aborrecimentos e assim, vão criando homens e mulheres sem os valores essenciais para a formação do cidadão e para a vida em sociedade.
Não venho julgar o estereótipo assumido pela família na atualidade, mas não há como falar da educação formal sem reaver o papel da família na sociedade enquanto educadora informal. Pais e filhos não conversam mais, não há diálogo e quando se encontram é para agredirem-se e é este o aluno que nossas escolas recebem hoje. Crianças sem a educação informal necessária para socializarem-se, sem valores e sem limites. Crianças que não aprenderam dialogar, que não aceitam regras e não se importam com o próximo e a escola abraça mais esta missão, o da educação informal, trabalhando antes de tudo com o atitudinal, tentando e lutando para passar aos seus alunos os valores já esquecidos por seus pais, mas que continuam sendo cobrados pela sociedade. Crianças que se negam a aprender, ou por já carregarem uma carga pesada demais advinda de problemas familiares, ou por simples negação, pois o aprender dói e exige do aprendiz determinação, garra e vontade.
A escola, então, passa a abraçar mais uma missão, a da educação primária, informal, mas não podemos e nem devemos nos esquecer que essa não é a função primordial da escola que é uma instituição que tem como objetivo transmitir o saber.
Muito vem sendo refletido, pensado e repensado, testado e tentado na educação. A sociedade inquieta percebe o problema em suas reais dimensões, mas parece não querer enxergá-lo, lembrando aqui que “ver” difere de “enxergar”, pois, o “enxergar” implica na tomada de consciência enquanto o “ver” para na superfície do problema.
Na tentativa de reverter os índices de repetição e evasão escolar são criadas leis que promovem os alunos muitas vezes sem a mínima condição de serem promovidos. É a progressão continuada instituída pelo Conselho Estadual de Educação (CEE ), no uso de suas atribuições e com fundamento no artigo 32 da Lei Federal nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, no Art. 2º da Lei Estadual nº 10.403, de 6 de julho de 1971, e na Indicação CEE nº 08/97. Seria ótimo se funcionasse na prática tanto quanto funciona na teoria. Mas ao que se pode conferir, se temos alunos saindo do ensino médio sem sequer saber escrever o próprio nome, então, seria a progressão continuada (ou automática como muitos a intitulam) a forma ideal ou o remédio para o mal do analfabetismo encontrado dentro de nossas escolas?
Peça fundamental é o professor, hoje tão desvalorizado, desmotivado, desgastado. É desrespeitado e agredido, tanto verbal quanto fisicamente por seus alunos que sabem estarem seguros e amparados pela lei, por mais inacreditável que isso possa parecer, mas é verdade, outra tentativa frustrada de nossos governantes que é a má elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA (Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990.), lei esta que necessita urgentemente de reformulações, pois, da forma como está, mostra-se um berço criadouro da marginalidade e, no entanto, o professor ainda luta para convencê-los de que o aprender, o saber é o maior tesouro que o homem pode adquirir, é bem que o tempo não corrói. Professores que muitas vezes passam a serem vítimas, acusados de principais responsáveis pelo fracasso da educação, mas que na verdade, lutam destemidamente contra aqueles que muitas vezes tentam camuflar a verdade da escola de hoje, da sociedade que abriga a família que não existe mais. Professores que, mesmo ganhando um salário de fome, mantém a dignidade do mestre que almeja ver no aluno, o discípulo que se nutre do desejo de saber cada vez mais.
Muitos filósofos e estudiosos defendem a tese de que o mundo mudou e a escola deve mudar também. Eu concordo! A Escola deve atualizar-se, informatizar-se, oferecer a seus alunos uma metodologia que vá de encontro ao mundo tecnológico ao qual estão habituados, preparar melhor seus professores e atualizá-los para que elaborem suas aulas utilizando-se de estratégias e recursos que tornem seus conteúdos mais atrativos.
Vivemos em um país que soma 14,1 milhões de analfabetos segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e nós, enquanto sociedade, o que podemos fazer? Como devemos agir? O que cabe a nós, cidadãos comuns, para mudar esta trágica realidade? Muitas vezes nos sentimos impotentes diante de diversas situações, mas agora estamos vivendo um tempo onde nos é dado instrumentos para mudarmos ou pelo menos começarmos a mudar esta realidade. Época de eleição, onde o meu, o seu, o nosso voto consciente poderá reescrever esta história já tão mal escrita e que não há mais como sustentar. Nosso voto pode ser o marco da mudança que tanto ambicionamos, mas para isso é necessário deixarmos de “ver” e passarmos a “enxergar” aqueles que querem tomar em suas mãos as rédeas deste país.
*Aisha*
Tu que te tornaras vítima do louco,
céu indisposto conspirando contra ti.
Busca teu eterno em sombras de poucos,
pois foste convertida em números, eu vi...
Vi também teu derradeiro fim,
o estouro ecoou no céu de fogo,
trazendo teu grito até aqui,
pasma observei-te demolir
e perdi-te na poeira de chegou a mim
e olhando a maldade que o monstro plantou,
em lágrimas me perdi...
Na poeira de teus escombros
desenhei meu adeus,
sei que a maldade não termina
e esse não foi teu fim.
Alerta ao homem que controla o próprio destino,
onde está Deus?
Tu não sabes, eu não sei,
mas o homem há de ver a própria face enfim.
Quanto a ti, voa no céu de marfim,
o mesmo que testemunhou teu fim,
serás vida onde a vida se faz ver.
A morte não será teu abrigo,
não te prenderás em sepulturas tristes assim,
onde a origem do amor acolhe os que são seus.
Viras anjo, sorri, livre nos sonhos
dos homens que choraram em teu adeus.
*Aisha*
O sapo sabido
grita espevitado
que tem um amigo
no castelo encantado.
Qual amigo?
Perguntou o gato
que tinha consigo
um espírito desconfiado.
-Um amigo especial -
respondeu o sapo
e de forma natural
terminou o seu relato.
O gato inconformado
insiste com o sapo
esperando ver revelado
o segredo que tem guardado.
“A curiosidade matou o gato”,
lembra o sapo espevitado,
mas o gato, sem tato,
insiste angustiado.
Então, o sapo sabido,
leva o gato todo animado
ao encontro do tal amigo
no castelo encantado.
Pobre gato curioso,
mal sabia que o tal amigo
era um cachorro furioso
que o tinha por inimigo.
E o sapo sabido
grita espevitado
que tinha um amigo
de espírito desconfiado.
*Aisha*
Voa alto, passarinho,
voa alto sem parar,
voa sem perder o ninho
onde estou a lhe esperar.
Voa alto, passarinho,
só não esqueça de voltar,
vou ficar aqui quietinho
sem vontade de cantar.
Voa alto, passarinho,
no seu jeito de voar,
estou triste e sozinho
com vontade de chorar.
Volta logo, passarinho,
volta logo pra alegrar,
volta logo para o ninho
sem você não sei ficar.
*Aisha*
Sonho de menino é jogar bola, fazer gol, ser convocado pra jogar na seleção e ainda ganhar todas, inclusive aquele caneco que é o mais cobiçado do mundo.
Sonho de menino é soltar pipa, dar bastante linha só pra ver os desenhos que faz lá no céu com as acrobacias que dá aquele friozinho na barriga da gente.
Outro dia escrevi um bilhete pra mãe não ficar preocupada, dizendo que já era grande e que ia ganhar o mundo. Não sabia direito onde o mundo começava e nem onde terminava. Achava que era ali onde a rua perde de vista e que dá no quintal da dona Nica. Será que a dona Nica morava no começo ou no final do mundo? Bom, mas se o mundo é redondo mesmo, uma bola, então acho que a dona Nica mora, metade no começo e a outra metade no final do mundo...
Peguei minha bicicleta e ganhei a rua, tinha que ganhar logo o mundo, quem sabe não encontrava o marido da Tita que saiu depois de brigar com ela, dizendo que ia ganhar o mundo? Nem sei pra que ele queria ganhar uma coisa que a gente já tem desde que nasce, mas isso ficou na minha cabeça. Naquele dia, era eu que iria ganhar o mundo, por isso peguei minha bicicleta e sai pedalando pela rua afora.
Como desconfiava, cheguei no quintal da dona Nica e parei lá pra pensar se estaria no começo ou no fim do mundo quando o Zeca gritou meu nome chamando pra brincar.
O quintal da dona Nica era uma delícia. Tinha pés de frutas, na verdade tinha um montão deles. Jabuticaba, goiaba, manga, araçá... Eu adorava brincar lá com o Zéca e com o Estopim que era o cachorro do Zéca, um cachorro muito magro e esquisito, mas que a gente adorava. Aquele era o nosso reino e a gente o defendia de invasores como piratas, bruxas, dragões, só não conseguimos defendê-lo da Nina, uma menina muito da magricela que vivia querendo brincar com a gente. Só o Estopim gostava dela, era ela chegar e pronto, o cachorro grudava nela e não saia mais de perto.
Perguntei pro Zéca se ele sabia se ali era o começo ou o final do mundo e ele, super assustado, me chamou pra ajudar na guerra que estava tendo lá. Novos invasores querendo tomar nosso reino. Corri pra dentro da nossa fortaleza, peguei minhas armas que era a espada de madeira que meu avô fez pra mim e a panela da minha mãe que eu usava como capacete, mas tudo isso tinha poderes mágicos e então parti com o Zeca em defesa do nosso reino.
A batalha estava muito difícil. As abelhas marcianas lutavam com todas as forças querendo derrubar os muros que fizemos pra proteger a entrada do castelo. De repente a Nina chegou com os cavalos e então ganhamos força e vencemos a guerra fazendo com que as abelhas marcianas voltassem pra Marte. Foi uma vitória linda! Comemoramos muito até que vi que o sol já estava indo embora, daí voltei correndo pra casa porque minha mãe não gosta quando demoro pra voltar. Ao chegar, minha mãe me perguntou o que era aquele bilhete e onde eu tinha ido, só então me lembrei que tinha que ganhar o mundo, mas não importa, o que importa mesmo é que todo dia, eu, o Zeca, o Estopim e a Nina ganhamos muito mais brincando juntos, mesmo porque o mundo a gente já tem e é todo nosso...
Mas um dia ainda vou descobrir porque o marido da Tita sumiu querendo tanto ganhar o mundo que na verdade ele já tinha...
*Aisha*
Triste e sozinha
rastejava pelo caminho
a pobre minhoquinha
procurando um buraquinho.
De tanto procurar,
a nossa amiguinha,
acabou por encontrar
a dona Joaninha.
A minhoca e a joaninha
pararam pra conversar
sobre o jeito que a vida vinha
e lá se puseram a falar.
O tempo foi correndo
como com pressa de chegar
e as amigas foram vendo
a noite escura chegar.
Então se foi a joaninha
atrás de um galho pra pousar
carregando a minhoquinha
que não tinha onde ficar.
*Aisha*
Pula pipoca
no fundo da panela,
pula e toca
no alto da janela.
Que cheirinho bom!
É do milho da pipoca
na panela encontra o tom
e alegra até o Zóca.
E a panela vai enchendo,
da pipoca que sabe pular
e o branco vai crescendo
fazendo a vontade aumentar.
Pula pipoca,
pro Chiquinho e pra Aurora
só não se esqueça do Zóca
que não pode ficar de fora.
É assim a festa do Zóca
que faz a alegria da meninada,
muito guaraná e pipoca
doce de leite e batata assada.
*Aisha*
Sigo nas linhas que o sonho rabisca e desenho minha vida com a arte que corre nas veias do artista e que dá cor ao sorriso da gente.
Sou criança inocente, miúda figura humanizada de forma ainda indefinida, alma entregue ao corpo em ritual de prazer.
E no jogo sigo livre, peça em tabuleiro de xadrez. Ora derrubando torres, ora vestindo-me da rainha e como tal, desfilo entre os raios de um sol maior que da tom a composição de existir.
Opostos encontrando-se por minutos repetem-se e repetem-se e repetem-se... Não será o desencontro o motivo de ainda querer amar?
Mas amar vai além do querer, além mar. É a busca sem a certeza do encontro, Santo Graal pregado por caçadores do eterno que nunca retornaram nem tão pouco traçaram um caminho, uma rota que fosse para iluminar as sombras de uma noite. E na noite espalha sutilmente seu cheiro, penetrando assim os poros do mundo e seguindo pelos segredos que um corpo frio não conta mais.
Mas segue na tentativa de apenas amar. Amar como se fosse a última chance, o último dia de todos que ainda haverão de despertar, mas no acordar de mais um sonho, lembra-se dos cantos ainda escuros, das esquinas ainda por dobrar na tentativa de descobrir mais um caminho a trilhar.
Exausto, aceita a porta que se abre a frente e de joelhos postos ao chão, levanta os olhos e na expressão humilde que sempre dirigiu sua vida, faz sua prece a Virgem que do alto lhe olha a alma. Com mãos tremulas, toca seu manto com a fé do peregrino que sai da terra que o pariu e segue buscando a remissão dos inúmeros atos que contradizem sua fé.
É de fé a reza do peregrino, assim como também tem fé o que busca a essência da vida na conjugação do verbo amar.
Borboletinha sai voando
sem saber pra onde ir,
dança bela de quando em quando
sem ter medo de cair.
Voa, voa borboletinha,
espalhando cores pelo jardim
entre as flores tão quietinhas,
margaridas, rosas e jasmins.
Voa borboletinha, tão dona de si,
ganha o céu e o sol que faz sorrir,
voa espalhando a alegria que li
nas linhas do tempo que não parece existir.
*Aisha*
“Corre, cutia!”
E a cutia correu
dia e noite, noite e dia
e cansada adormeceu.
“Corre, cutia!”
No seu sonho gritava
e os gritos que ouvia
de pavor, arrepiava.
“Corre, cutia!”
A cutia / gente mandava
e a gente / cutia corria
entre os sonhos que sonhava.
“Corre, cutia!”
E a cutia correu,
sonhando no novo dia,
das corridas se esqueceu.
*Aisha*