terça-feira, 30 de março de 2010

Quaresma - Aisha


Atravessa meu Deus nos quarenta passos

que trago em mim,

as tristes dores dessa alma que um dia

vestiu-se do amor.

Tão seu o meu caminho, perdido nos atalhos

sem encontrar um fim,

lança-se em quarenta passos ao lado do corpo

já sem vida a contrapor.



Atravessa meu Deus os quarenta desertos

em que me encontro agora,

reveste-me da penitência parindo o novo

que ressurge em mim,

nas vestes sem glória, sou fruto bendito

de toda misericórdia que aspergiu

pelos quarenta dias onde ajoelhei-me jejuando

abrigada às asas de um querubim.



Atravessa meu Deus, quarenta noites se fizerem

assim os dias de mim,,

dá-me da sua paz, quarenta vezes mais

a paz que um dia sonhei,

pelos desertos áridos onde as dores do mundo

parecem sem fim,

vem depressa nessa quaresma onde seu filho,

por amor sofre também.



Atravessa meu Deus, e faça-me atravessar

nas vestes dessa vivência

os mares de areia onde meu espírito espera

no consolo dos olhos seus,

olha-me nos quarenta anos

de minha existência

que viverei por quarenta vidas como a filha

que não se perdeu.


*Aisha*


sábado, 27 de março de 2010

Vida pela vida - Aisha

Sonho muito e gosto de sonhar... As vezes me assusto com o pensamento de um dia não poder sonhar mais e perder o colorido, a melodia que compõe o que tenho de melhor em mim.

Conforme vivo, vejo mais da vida se estendendo adiante, como um caminho que aumenta à medida que se caminha por ele e isso faz com que cresça um desejo imenso de imergir em batismo no renascimento diário que representa o viver, e aprender com o sol que todos os dias me saúda, seja eu merecedora ou não, com a chuva e a própria terra que me dá o pão.

Aprender com a vida a arte de viver e simplesmente viver um sonho de cada vez, mas vivê-los todos, ter o tempo nas mãos e não mais ser controlada por ele, nem pelo chefe com a eterna expressão de insatisfeito, nem pela roupa e saltos desconfortáveis e muito menos pelos julgamentos dos falsos e hipócritas que na maioria das vezes me cercam... Viver o sonho de uma vida em liberdade, poder colher os frutos do aprendizado, ser abençoada pelas mãos da sabedoria que em sua magnitude cura todo homem da cegueira da ignorância que há muito o tolhe.

Vida pela vida e a alma em sintonia com todo o universo. “O que há em cima, há em baixo”, já dizia o sábio e assim gritou a águia sobrevoando meus passos, apontando o caminho e gravando em minha alma o sonho de viver a vida em plenitude.

Muitos nascem, milhares sobrevivem, outros milhares colocam-se à margem da vida enquanto outros muitos morrem e outros mortos não conseguem ao menos perceber sua morte e continuam vagando pela vida. Mas a vida existe em tudo e todos. E espera por quem dela se aproprie para realmente viver. Eu escolho viver! Abraço minha luta, enfrento minha batalha, busco minha vitória sabendo que os resultados são consequências de minhas escolhas e atos e mesmo as vezes, fazendo escolhas erradas, encaro essas consequências de cabeça erguida por saber que os erros também fazem parte da vida, assim como as dores e tristezas das quais nos redimimos através das lágrimas que nos lavam o espírito...

Tenho uma vida, uma única vida para viver e sonhar e isso não me dá tempo para perder tempo. Quero dela tudo o que puder alcançar, todo bem que puder semear e então, ao chegar ao meu ponto final, poderei certamente descansar, pois terei encontrado minha paz.

*Aisha*

domingo, 21 de março de 2010

Por onde anda a inocência? - Aisha

Por onde anda a inocência?

Sei que ela existe, ou pelo menos existiu. Nem faz tanto tempo assim que a perdi. Não sei muito bem ao certo se morreu ou se partiu.

Lembro que a encontrava nos olhares das crianças que viviam, pensavam, brincavam e sonhavam como crianças. Nas brincadeiras de roda, pega-pega ou balança, no ouvir histórias pintando a vida com as cores da esperança, imaginando-se príncipes ou princesas no reino encantado do faz de conta que por sua conta fazia sonhar sonhos lindos de se contar.

Hoje a criança já não sonha mais os seus sonhos infantis, querem ser adultas e trazem consigo idéias juvenis.

Os jovens também carregavam a inocência. Conseguiam se olhar e olhar a vida, livres da violência e da malícia que aporta em tantas fases da vida...

O primeiro amor era antes de tudo inocente.

Trazia a descoberta do beijo que fazia vibrar com o efeito que causava na gente.

Havia a crença no amor "seja infinito” e não no "enquanto dure”, como nos canta o poeta em sua magnitude, pois os apaixonados puramente acreditavam ser o amor forte o suficiente para enfrentarem juntos a vida, que para além da eternidade se estenderia.

Hoje, longe da inocência, assim como a criança, o jovem também se perdeu em descrenças. Já não sonha mais seus sonhos com tanta firmeza. Conscientes da chama que finda transformando o amor em cinzas, muitos se entregam ao lamento e a dor, esquecendo que o amor é flor que mesmo em morte, espalha sementes nas vidas dos fortes que buscam nele sua sorte.

E o jovem amadurece tornando-se adulto.

Houve um tempo em que o adulto também trazia em si a inocência, pois acreditava com veemência que para ser feliz bastava a vivência.

Não se importava com poderes desmedidos ou em ser pobre ou rico. O importante era o caráter e a honestidade. Caminhava sob a luz da verdade e confiava na justiça, que ao seu parecer, trazia a ordem como o sol trazia o dia.

E a inocência, sem medir esforços, lançava o seu brilho sobre todos os povos, crianças, adultos ou jovens dispostos; tinha seu ofício como um sacerdócio.

Hoje olho para o mundo na figura de um menino procurando a inocência que se perdeu no caminho.

Aisha