domingo, 21 de março de 2010

Por onde anda a inocência? - Aisha

Por onde anda a inocência?

Sei que ela existe, ou pelo menos existiu. Nem faz tanto tempo assim que a perdi. Não sei muito bem ao certo se morreu ou se partiu.

Lembro que a encontrava nos olhares das crianças que viviam, pensavam, brincavam e sonhavam como crianças. Nas brincadeiras de roda, pega-pega ou balança, no ouvir histórias pintando a vida com as cores da esperança, imaginando-se príncipes ou princesas no reino encantado do faz de conta que por sua conta fazia sonhar sonhos lindos de se contar.

Hoje a criança já não sonha mais os seus sonhos infantis, querem ser adultas e trazem consigo idéias juvenis.

Os jovens também carregavam a inocência. Conseguiam se olhar e olhar a vida, livres da violência e da malícia que aporta em tantas fases da vida...

O primeiro amor era antes de tudo inocente.

Trazia a descoberta do beijo que fazia vibrar com o efeito que causava na gente.

Havia a crença no amor "seja infinito” e não no "enquanto dure”, como nos canta o poeta em sua magnitude, pois os apaixonados puramente acreditavam ser o amor forte o suficiente para enfrentarem juntos a vida, que para além da eternidade se estenderia.

Hoje, longe da inocência, assim como a criança, o jovem também se perdeu em descrenças. Já não sonha mais seus sonhos com tanta firmeza. Conscientes da chama que finda transformando o amor em cinzas, muitos se entregam ao lamento e a dor, esquecendo que o amor é flor que mesmo em morte, espalha sementes nas vidas dos fortes que buscam nele sua sorte.

E o jovem amadurece tornando-se adulto.

Houve um tempo em que o adulto também trazia em si a inocência, pois acreditava com veemência que para ser feliz bastava a vivência.

Não se importava com poderes desmedidos ou em ser pobre ou rico. O importante era o caráter e a honestidade. Caminhava sob a luz da verdade e confiava na justiça, que ao seu parecer, trazia a ordem como o sol trazia o dia.

E a inocência, sem medir esforços, lançava o seu brilho sobre todos os povos, crianças, adultos ou jovens dispostos; tinha seu ofício como um sacerdócio.

Hoje olho para o mundo na figura de um menino procurando a inocência que se perdeu no caminho.

Aisha

2 comentários:

  1. Ola Aisha

    Que lindo texto
    Como entender as mudanças de uma geração, ou mesmo de tempos que jamais voltarão, o que dizer de um sentimento que ha muito não se vê, não se registra, não se emana destes novos personagens da vida.
    A inocência que um dia foi fruto da pureza de uma vida, hoje cai no esquecimento de nosvas tecnologias, de novos pensamentos juvenis, de novas fontes de consumo; Na verdade a inocência em toda sua plenitude ortografica acabou por ser apenas mais uma no passado.
    Os tempos atuais nos mostram novas formas de agir, de pensar, de escrever e principalmente de viver.
    As razões principais desta transformação tomam o lugar da "inocência" e as vezes levam a dissabores marcantes.
    O mundo roda, o dia gira e a vida se "transfroma", precisamos estar preparados para e todas estas transformações.
    Parabens pelo texto apresentado
    Um forte abraço
    Mad

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  2. Danusa Leão é expert naqueles textos, como postei no blog.
    Rs.

    Passei a seguir-te, seus textos são divinos, voltarei mais vezes, volte quando puder, meu blog está de portas abertas =)

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