segunda-feira, 26 de abril de 2010

O fantasma Pentamofeus - Aisha



Pentamofeus era um fantasma!

Morto há milhares de anos, Pentamofeus era um fantasma solitário porque, embora fosse um fantasma, morria de medo de fantasmas. É estranho, mas é verdade! Fato é que, viver, ou melhor, vagar pelo pós vida só, auxiliou Pentamofeus a ser um fantasma até que bom. Ele não era do tipo de fazer maldades ou arrastar correntes ou assustar as pessoas, até mesmo porque se ele tentasse assustar alguém, o primeiro a sair correndo seria ele mesmo, devido ao pavor que tinha de fantasmas.

Logo que Pentamofeus se transformou em fantasma, isso é, morreu - não sei se você sabe, mas para virar fantasma não basta morrer, é preciso passar um tempo primeiro numa sala preparatória onde tudo é muito branco, mas tão branco que chega a ofuscar a visão e, já que morto não enxerga, para eles até que é bom um estimulo assim forte... Então, é preciso passar um tempo nesta sala onde não tem nada, apenas essa luz fortíssima e também onde os pré-fantasmas aprendem a atravessar as paredes, afinal, não há morto que agüente ficar tanto tempo assim num lugar onde não há nada e nem nada para fazer, só com uma luz ofuscando a visão, ai no desespero eles passam toda e qualquer parede e, se passar e continuar fantasma, assim, daqueles transparentes sem nem carregar a poeirinha que tem no meio da parede, ah! Então pronto, já ganham a carteirinha (também transparente) de fantasmas - bem, continuando, logo que Pentamofeus se transformou em fantasma e ganhou sua carteirinha ele quase morreu de novo, tal foi o susto que levou ao ver ao seu redor um montão de fantasmas festejando a etapa vencida. Todos queriam cumprimentá-lo e estavam fazendo uma festa quando nosso amigo teve um surto de pânico e quase morreu de novo. Não podemos esquecer que Pentamofeus estava iniciando nessa fase de fantasma no pós morte, e, portanto, nunca havia visto fantasmas, apenas morria de medo deles. Bom, depois desse surto acabou sendo excluído do meio fantasmagórico, o que para ele foi um alívio, assim pelo menos não precisaria nunca mais ver outro fantasma, já que ele não conseguia ver a si próprio por ser assim meio transparente. Saiu pelo mundo, foi longe da civilização dos fantasmas e desde então nunca mais teve contato com fantasmas, nem com gente, nem com bichos, até que...

Bem, aqui inicio a história que estou tentando contar desde o comecinho, então vamos lá:

Um dia, sentado no pico de um monte muito alto, mas muito alto mesmo, Pentamofeus se cansou de ficar sentado. Por séculos estava sentado ali. Você deve achar que estou exagerando, mas não estou não, Pentamofeus ficou sentado no mesmo lugar por séculos - não se esqueça que o tempo não conta igual pra gente e pra fantasma - até que um dia, mais precisamente neste dia que estou contando, ele saiu voando até uma cidadezinha que ficava abaixo desta montanha. Coitado! Ficou por tanto tempo sentado ali, se escondendo dos fantasmas, que nem viu a cidadezinha se formar... Mas, Pentamofeus, sobrevoando a cidadezinha, viu lá de cima um menino que se escondia lá embaixo e resolveu averiguar o que estava acontecendo. Devagar foi se aproximando até que pode perceber tudinho. Aquele menino era o filho do açougueiro. Ao saber que o pai estava prestes a matar um boi - era isso que o açougueiro dessa cidadezinha fazia, matava bois, porcos, para depois vender sua carne - tratou logo de soltar o bicho e levá-lo pra bem longe, onde estivesse a salvo. O pai, ao descobrir o que o menino fez, pegou o facão e disse que lhe tiraria a pele, para que, o menino correu um tanto tão grande quanto a vontade que a gente tem de correr da mãe quando ela fica muito, mas muito brava com a gente, sabe? Pois então, o menino correu tanto que acabou gastando o calcanhar e quando Pentamofeus chegou naquele momento, o menino estava chorando e pensando como continuaria a correr do pai se o calcanhar estava gasto? Não deu outra, Pentamofeus, esquecendo-se do medo que, além de fantasmas agora, devido ao tempo que ficou exilado na montanha, sentia por gente também, se aproximou do garoto tentando ajudá-lo.

O menino, tão apavorado estava com sua situação que nem reparou que estava diante de um fantasma. Desatou a chorar e a contar tudo a Pentamofeus que, já comovido, teve uma idéia para ajudar o menino.

Como fantasma, Pentamofeus podia se transformar no que quisesse e, sendo assim, se transformou em um boi bem grande e gordo. É certo que pra boi estava assim um tanto pálido, já que fantasma não tem cor, mas fez o melhor que pode e o menino, mais que depressa e feliz por ter achado um amigo tão especial, tratou logo de levar “o boi” ao açougue para entregar ao pai.

Assim que seu pai lhe viu chegar com aquele boizão, muito bravo ainda, mas já com um risinho no canto da boca, sabe aquele risinho de “desculpo você”? Pois então, o homem já foi logo com o facão pro lado do Pentamofeus que, sem saber de onde vinha recebeu o grande golpe fatal e, o pior você não sabe, mas vou contar, o pior é que Pentamofeus morreu de novo e desta vez foi pra valer, pelo menos eu nunca mais tive notícias dele. Morreu bem morrido, tão morrido que nem fantasma o coitado conseguiu ser de novo, o que não foi assim tão mal, já que tinha tanto medo de fantasma, melhor mesmo ficar de morto, não é?

Quanto ao menino, claro, seu pai lhe desculpou e voltou às boas com ele, mas assim que cresceu, o menino herdou o açougue e o transformou em loja de produtos vegetarianos, casou-se com uma moça muito bonita, mas meio esquisita, pois, a moça era daquelas que dizia ver coisas como discos voadores, ETs, almas penadas, tanto que no dia do casamento, jurou ter estado no altar como padrinho um fantasma que, no final do casamento veio lhe cumprimentar, se apresentou com o nome de Pentamofeus e de repente, sem mais e sem menos, puft! Desapareceu como por encanto, mas é claro que ninguém acreditou nisso, afinal de contas, fantasmas não existem, não é?


*Aisha*

Um comentário:

  1. Aisha (Morzinhu)

    A cada história seus textos ficam mais atraentes e mais envolventes, bom, já sabe que é minha escritora favorita, né?
    Te amo
    Caio Lucas

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